Pecado original
Que se miravam,
Cada um sonhou o futuro
Em par a alma, e os corpos aninhavam!– cada um de nós idealizou o depois…Na duplicidade
Fusão no depois, nem ação nem pecado
… apenas um continuo debochado…Na mão que eu pedi,
Que ofereceste e recebi,
Não foi por ela que me debrucei, mas por ti…
– Meu nome é meramente poeta
Será por Deus, meramente pecado
Esta dormência despida da serpente
Que fielmente te procura como fértil vale,
Tentando ser apenas um só!
Das bocas, dos lábios
Não nascem palavras, sonhos
Das nossas frontes, no lascivo olhar
Apenas brotam, desejos e longos beijos!
Os braços, pernas, os corpos
Dedos e lábios que se misturam…
Mesmo assim sofres amargamente a saudade,
A ânsia e sede, uma fome sem fim!
– Tu de me teres em ti.
E eu de fielmente te pertencer!
Assim perante testigo
Toda te deste
Todo me dei…
mil vezes morri, prostrado…
mil vezes ressuscitei
Para uma dor mais vibrante
Um ausência confirmada
Imposta contraria vontade
E um prazer mais torturado.
E enquanto os olhos se esbugalham
Num imagem distorcida na memória
E as doces curvas do teu corpo se contorcem
o meu aquece na longínqua distancia
O nosso olhar pousado no horizonte
No desespero desse abraço mudo,
Confessaram-se tudo!
… Enquanto nós pairávamos, suspensos
Entre a terra e o céu.
Pela dor atroz do esquecimento das leis,
– Pela própria lei de Deus,
E o homem se unirá a sua mulher
Juntos formarão uma só carne
Uma só alma!
Alberto Cuddel